segunda-feira, 14 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, no topo de uma Fox, viatura blindada do Esquadrão de Reconhecimento Fox. Estas unidades de cavalaria também possuíam viaturas White (ver foto a seguir) (1).

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Viatura blindada White, de matrícula MG-34-69, pertencente ao Pelotão de Reconhecimento Fox, estacionado em Guileje. Documento que faz parte do álbum fotográfico do Casimiro Carvalho, sem data nem legenda. Segundo o Casimiro Carvalho, o pelotão chamava-se Os Pipas (LG).



Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): 1ª quinzena de Maio de 1973: Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira (2)

Cartas enviadas pelo José Casmiro Carvalho à família. A selecção, a revisão e a fixação do texto são da responsabilidade do editor do blogue (LG) .


Cacine, 6/5/3


Mãezinha. (…) Chamaram-me no dia 4 e disseram-me: Você vai para Cacine receber os mantimentos para toda a época das chuvas, durante um mês. E cá estou…

Tem praia onde tomo banho todo os dias. Come-se assim: Jantar: arroz de frango (aquele escuro, com sangue), mas com frango; meia pera de conserva, 1 banana, vinho à discrição com gelo; café. Almoço: pato com batatas às rodelas, uma espécie de Espanhola, bastante pato, canja (uma delícia), 2 babanas e café. Como vê !!!?

PS – Junto foto contado o patacão.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho contando o patacão.... Foto enviada à mãe.


Cacine, 6/5/73

Querido pai: A sorte desta vez escolheu-me para ser protegido, pois mandaram-se para Cacine, terra de praia e sol, cocos, mangos, bananas, nada que fazer, nada de patrulhas nem trabalho… Só quando vêm batelões de Bissau é que tenho que conferir tudo (ao todo, durante este mês são 120 toneladas de reabastecimentos) e depois acompanhar de batelão até Gadamael (a 18 km de Guiledje) e voltar para Cacine, à espera de mais.

Sob o meu comando, estão um cabo e um soldado para ajudar. Em dois dias já estou mornaço.

(…) Aqui vai [uma foto de ] um dos carros de combate de Guileje.

(…) Um abraço sincero do seu Operações Especiais que de especial não tem nada. With Love.



Os aviões voltarão a voar, promete o Spínola


Cacine, 13/5/73

Mãezinha: (…) Fui até Gadamael de batelão (isto é que é viajar de barco!) e passei lá uma noite, noite em que Guileje foi atacada.. Também choveu torrencialmente e eu cá fora só de calções a apanhá-la e os soldados, com sabão, debaixo das caleiras a tomar banho” (…)

(…) Todos os dias, praia e banho. Não é nada mau, não acha ? Estou mesmo preto. Ando a sofrer por causa da ‘lica’: são centenas de borbulhinhas que com o suor picam como mil agulhas” (…).


Cacine, 13/5/73

Bijou: (…) Tenho andado aqui de batelão, comido cocos e bananas nem se fala. Mangos (fruta saborosa) há qui aos tombos.

Come-se bem aqui, e continua (hoje bifes de cebolada). Guileje foi atacado outra vez, mas eu não estava lá.

Parece que vai haver aviões outra vez no mato. Disse o Spínola anteontem em Guileje. Um beijo (…).



Carros de combate russos na fronteira

Cacine, 15/5/73


Paizinho: (…) A guerra aqui está cada vez pior. O Hospital de Bissau (3) está repleto (infelizmente). Só em Guidaje ,[ no norte], 40 feridos, alguns dos quais com membros amputados (já a cheirar mal devido a terem esperado 2 ou 3 dias por coluna para serem evacuados). Aviões já não vão lá.

No Cantanhez (todos estes locais que menciono são no sul, onde estou), 13 feridos numa emboscada. Guileje foi atacada outra vez e passados dois dias os melhores homens que tínhamos lá (dois furriéis milicianos) morreram, em consequência de uma mina anticarro que iam levantar. Andamos tods transtornados.

A 18 km de Guileje fica Gadamael e foram para lá 4 canhões sem recuo e 35 homens para os guarnecer. Levaram também granadas anti-tanque, pois foram vistos carros de combate na fronteira da República [da Guiné-Conacri].

O meu serviço aqui é receber os géneros e artigos de cantina que vão para Guileje, para o isolamento, pois com as chuvas ficamos como que numa ilha e não podemos sair de lá, só de avião ou barcos de borracha. Aviões não há. Portanto só de barco (o que é muito perigoso)…

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. Não sei qual era o nº do Esquadrão. No meu tempo (1969/71), havia um Esquadrão de Reconhecimento em Bafátá, a que pertenceu o nosso camarada Manuel Mata. Vd. posts:

2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DXCVII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (1)

3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (2)

25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)

2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (4): Elevação de Bafatá a Cidade

(2) Vd. posts anteriores desta série:

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

(3) Vd. post de 7 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)

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