terça-feira, 13 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1585: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (1): Carlos Vinhal / Joaquim Mexia Alves

1. Comentário do Carlos Vinhal ao post do João Tunes (1):


Caro Luís, caro João Tunes e Camaradas:

Pelos seus escritos e pelo modo como expõe os seu pontos de vista, sou admirador do nosso camarada João Tunes.

É, portanto, pelo respeito e frontalidade que ele me merece, que venho dar a minha opinião negativa, sobre considerar, a título póstumo, membro da nossa tertúlia o Fuzileiro António Pinto.

Passo a apresentar as minhas razões:

(i) Já em tempos se chegou à conclusão que incluir alguém como membro honorário do nosso blogue, que por estar morto, não pode exprimir a sua concordância, estava fora de discussão. Caso do Embaixador Álvaro Guerra proposto pelo nosso camarada Beja Santos (2).

(ii) Parece-me, neste caso, estarmos em presença de uma acção que premeia uma posição política. Política não se faz nem se discute no nosso blogue. Assim me disseram.

(iii) Este é um blogue de antigos combatentes (3), que o foram desde a mobilização até à desmobilização ou morte em combate, não cabendo nele pessoas que por convicção política, objecção de consciência e outros motivos, o não foram. Aceitamos no nosso seio amigos da Guiné, familiares dos nossos camaradas já falecidos e outras pessoas que com o seu contributo possam engrandecer o fabuloso conteúdo histórico do nosso blogue.

À consideração dos demais companheiros.

Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732/CTIG 1970/72
Mansabá
SPM1388

Leça da Palmeira

2. Comentário do Joaquim Mexia Alves:


Caros Camaradas da Guiné:

Faço minhas as palavras do Carlos Vinhal, que vão na linha do que escrevi quando do assunto do Embaixador Alvaro Guerra.

Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alf Mil Op Esp
CART 3492 / Pel Caç Nat 52 /CCAÇ 15
Xitole / Bambadinca / Mansoa (1971/73)


Termas de Monte Real - Leiria

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

(...) O camarada, fuzileiro naval e alentejano, António Pinto desertou para o PAIGC por convicção política de repulsa para com a guerra colonial. Entendeu prosseguir a sua aversão pelo fascismo e pelo colonialismo, integrando a luta armada contra a ditadura portuguesa nas fileiras da LUAR, liderada por Palma Inácio. Tendo entrado clandestinamente em Portugal, foi preso pela PIDE, sendo prisioneiro na Prisão de Caxias quando do 25 de Abril. Libertado, integrou-se na revolução e foi segurança do General Vasco Gonçalves. Após o 25 de Novembro de 1975, temendo voltar à prisão, foi viver para a Holanda, onde ganhou a vida como cobrador dos transportes colectivos. Faleceu há 4 anos (...).

"Pela minha parte, eu que fiz uma guerra por obrigação mas absoluta e resolutamente contrariado, não atirando pedras a quem fez a guerra com afinco e convicção nem a quem escolheu outros caminhos, incluindo a sua recusa, e porque o meu modelo de vida e de valores são do meu foro e unipessoais, que servem muito bem a minha consciência mas não estão à venda para consumo alheio nem lhe permitindo uso prosélito, proponho que a nossa generosidade camarada promova, a título póstumo, o fuzileiro naval António Pinto a membro da nossa tertúlia" (...).

Comentário de L. G.:

"Não sou dono do blogue. Gostaria que os membros da nossa tertúlia se pronunciassem sobre esta proposta do camarada João Tunes, a quem saúdo. Trinta e três anos depois do fim da guerra colonial/guerra do Ultramar, não há mais tabus. De qualquer modo, não escondo que esta é uma questão fracturante . Por muito generosos que sejam, haverá sempre camaradas nossos, que vestiram a farda do exército português e fizeram a guerra, com ou sem convicção, que têm dificuldades em olhar de frente os seus ex-camaradas desertores...

"Era bom que discutíssemos aqui a proposta do João Tunes de promover a membro da nossa tertúlia, a título póstumo, o ex-fuzileiro naval António Pinto. O João tem a qualidade, rara neste país, de ser um homem que dá a cara pelas suas convicções.

"Acrescento, a título de curiosidade, que um dos três fuzileiros navais aqui mencionados, o Alfaiate, acabou por colaborar com o comandante Alpoim Galvão na Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de Novembro de 1970). Acompanhou a força invasora e o seu conhecimento da prisão do PAIGC, em Conacri, foi decisivo para o sucesso da libertação dos prisioneiros portugueses" (...).

(2) Vd. post de 28 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1323: Bibliografia de uma guerra (15): Os Mastins e o Disfarce, de Alvaro Guerra (Beja Santos)

(3) Vd. post de 12 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

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