sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1390: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (10): Os Maiorais de Empada, 1969 (Zé Teixeira)




Guiné > Empada (Região de Quínara) > CCAÇ 2381, Os Maiorais (1968/70) > Natal de 1969: a esposa do capitão da companhia veio de propósito passar a quadra natalícia com o marido e o resto dos Maiorais. A recepção foi de arromba: autocarro do amor, eurovisão, etc.

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados




Guiné > Empada (Região de Quínara) > CCAÇ 2381, Os Maiorais (1968/70) > Natal de 1969: um jantar como devia ser, a que não faltou o bacalhau com batatas, o vinho, a cerveja e a música.

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.


Mensagem do Zé Teixeira (1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381):

Caro amigo e camarada, neste tempo frio que só o cheirinho a Natal aquece, arrefecendo a nossa bolsa, queria sentir quanto estavas em Paz e que o amor também não falte.

Como é Natal, quero contribuir para a construção memorial dos nossos Natais vividos em tempo de guerra.



Natal de 1969 nos Maiorais de Empada (1)

por Zé Teixeira


1. Contrariamente ao Natal vivido em 1968 em Mampatá Forrea, o Natal do Silêncio em que apenas as rabanadas cozinhadas com todo o carinho pelo grande Valente, atirador transformado em cozinheiro à força mas que deu conta do recado de forma excelente, aqueceram um pouco o ambiente, mais as canhoadas que se ouviam ao longe - se bem me lembro, Guileje e Gandembel.

O Natal de 1969 foi uma festa, em que o perigo foi desafiado mas valeu a pena.

1º Já cheirava à peluda, éramos velhinhos com 18 meses de guerra, estavamos totalmente apanhados pelo clima.

2º Empada estava mais ou menos calma, apesar de no último ataque uns dias antes termos sofrido um morto de forma algo bizarra, como conto no Meu diário (2).

3º Foram criadas algumas condições anímicas para que fosse realmente uma festa.

O Capitão Moutinho Santos, desafiou a esposa a vir passar o Natal connosco e esta aceitou. Uma mulher branca no nosso meio, mesmo sendo a do esposa do capitão foi manga de ronco.

A festa da recepção foi de arromba, como se pode ver nas fotos. Não faltou o autocarro do amor com o respectivo coro, onde a senhora entrou de imediato (quem não se lembra desta célebre canção -era a coqueluche da época). A Televisão esteve presente com um excelente camaraman, cá o Zé.

Depois veio o jantar a rigor, com bacalhau com batatas, vinho e cerveja q.b. e muita música. Foi até cair.

Uma bela noite para recordar em que faltou a animação do costume, felizmente.

Guiné > Reguão de Quínara > Mampatá > Natal de 1968 > Miúdas da tabanca...

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados



Guiné > Mampatá > Natal de 1968 > A Mariama, cara de GMC, serviu de tema ao postal natalício...

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados


Guiné > Mampatá > O Zé Teixeira mais a sua Maimuna...

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.


2. As fotos que envio, reportam-se ao Natal de 1968. No cartão em que estão as crianças: a da esquerda é a Binta Bobo, que já faleceu e uns anos depois teve um fidjo matcho di branco, pelo que foi repudiada. Às costas trás a minha Mudjer - a criança que salvei de grande crise de paludismo, que tinha vindo de Bissau, desenganada pelos médicos e que eu, abusando dos meus conhecimentos empíricos adquiridos na guerra, curei. A mãe teimava oferecer-ma para minha mulher, chegando a vir trazer-ma à viatura quando me preparava para deixar Mampatá de vez a caminho de Buba. Grande momento de alegria, mas também de profundo sofrimento, pela partida de um lugar que me foi tão querido. (Ver Meu diário) (3). A outras miúdas são filhas do meu amigo sargenti di milicia Hamadú que não tive o prazer de voltar a ver em Buba, em 2005, mas ainda não desisti.

Na outra foto está a Mariama a quem pus a alcunha de cara de GMC- dará para entender !

Vai ainda uma foto em que estou com a minha Maimuna, no rescaldo de um ataque à uma da tarde de Novembro (que nos estragou um lauto banquete de vitela, que andava arredia de nós, há dois meses e que eu num golpe de magia, consegui) junto de uma morança queimada com o seu dono lá atrás, com tudo o que ficou.


3. Aproveito para reter na minha mente todos os tertulianos e não só, todos os camaradas que ainda têm a sorte e condão de fazer Natal uma vez por ano.

Pedir-lhe para que tenham a ousadia de tentar fazer do Natal uma festa de todos os dias para que a Paz e o Amor se transformem em realidade concreta, e não uma utopia.

Que este Natal seja Santo para todos vós.(É-se Santo, quando estamos em paz connosco mesmo, com quem nos rodeia e vivemos a alegria da vida que merece ser vivida com garra e doação).

Que o Ano de 2007 traga cada um de nós muitas surpresas agradáveis e seja um ano de construção de um mundo melhor com a nossa colaboração activa.

Zé Teixeira
Esquilo Sorridente

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1387: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (9): Catió, 1967 (Victor Condeço)

(2) Vd. post de 12 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXII: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (18): Empada, Novembro/Dezembro de 1969 )

(...) "Empada, 16 Novembro de 1969: O Marinho Caixeiro Conceição morreu. Era querido e estimado por todos. Passava o dia a cantar a cantar a morte o surpreendeu, quando no ataque do dia 14 estava na retrete. Talvez porque estivesse a cantar, não ouviu as saídas nem os gritos de avisos dos colegas que iam tomar banho. Quando sentiu o primeiro rebentamento junto à caserna tentou fugir, mas já era tarde, uma das primeiras granadas rebentou no telhado e meteu-lhe alguns estilhaços no corpo - o que lhe perfurou a nuca foi fatal -, e ainda foi projectado contra a parede, aumentando os estragos " (...).

(3) Vd. post de 19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (8): Chamarra, Janeiro de 1969

(...) Mampatá, 5 de Janeiro de 1969: (...) Admiro esta população de Mampatá. Quando souberam que eu ia de serviço na coluna em substituição do Lemos vieram despedir-se de mim. Fui abraçado, as bajudas beijavam-me e cantavam uma melodia triste. Até dá gosto viver com esta gente.A mãe da Binta veio trazer-ma para lhe dar um beijinho e fazer um festinha como era meu hábito (Pegava nela e atirava-a ao ar dando a miúda e a mãe uma gargalhada). A Maimuna tinha oito luas quando cheguei a Mampatá (...).

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