segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1358: No cais do Xime, dois velhos Unimog pedindo boleia a algum barco (António Rosinha, ex-topógrafo da TECNIL)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > 1997 > Rio Geba. Cais de desembarque em ruínas. Era a porta de entra da zona leste: por aqui passaram, durante a guerra colonial (1963/74), milhares e milhares de homens, viaturas , armas e demais material, desembarcados em LDG (Lanchas de Desembarque Grandes). A partir do Xime (em frente, havia um outro destacamento, Enxalé), o rio passava a designar-se por Geba Estreito, sendo navegável até Bafatá apenas através de pequenas embarcações civis ou LDP (Lanchas de Desembarque Pequenas). Entre as embarcações civis, destacava-se os barcos da famosa Casa Gouveia, ligada ao grupo CUF - Companhia União Fabril. O ataque a embarcações no Geba Estreito era frequente, obrigando à realização de patrulhamentos ofensivos na região de Mato Cão.

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Rio Udunduma > 1970 > A estrada Xime (à direita) - Bambadina (à esquerda), com a respectiva ponte, semi-destruída. Vísivel também o troço da nova estrada que estava em construção, a cargo da empresa Tecnil, e que implicou a construção de uma nova ponte. Fioto aérea tirada no sentido Noroeste-Sudeste, ou seja, do lado de Nhabijões (vd. carta de Bambadinca).

Foto: © Humberto Reis(2006). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > 1970 > Gr Comb da CCAÇ 12 > Pesca à linha (Humberto Reis), banho à Pai Adão, passeio de canoa, dias felizes (se descontarmos o pesadelo das noites) (1)... Nesta velha ponte, construída em 1952 e dinamitada pelo PAIGC em 28 de Maio de 1969, passava a estrada que ligava o Xime a toda a zona leste. Em 1970, a Tecnil estava a construir uma nova estrada e uma nova ponte...
Foto: © Humberto Reis(2006)


Texto do António Rosinha (2), com um belíssimo e nostálgico título > A estrada Bambadinca-Xime e dois Unimog alinhados frente ao canal do Enxalé, pedindo boleia a algum barco (1990)

Luis Graça, este será em tua lembrança, o primeiro contacto com os tertulianos, cujas mensagens leio há meses, e a quem desejo as maiores felicidades.

Mais ou menos vinte anos depois de assistires, de arma na mão, à construção da estrada em referência, estou eu na Guiné-Bissau, nas Obras Públicas como cooperante (detesto esta palavra tanto como a de colonialista).

E a minha visita ao Xime foi precisamente dentro de um projecto de manutenção de estradas do Banco Mundial em que tinha que observar todas as estradas a fim de serem reabilitadas. Esta era uma estrada com curvas suaves, bastante plana num terreno acidentado, teve portanto muito trabalho de aterros altos, com vários aquedutos com tubos metálicos, muita vegetação verdíssima.

Verifiquei que o asfalto tinha envelhecido sem uso: de facto, não vi nenhuma viatura passar por mim talvez em mais de 2 horas. Chegando ao Xime, vê-se do lado esquerdo um morro com umas construções abandonadas que tanto seriam para quartel como também para alguma função administrativa. E mesmo no fim do asfalto, um grande descampado que poderia ser parada de quartel: onde se apresentam dois Unimogues ,alinhados, envelhecidos sem uso, junto ao canal [Rio Geba], onde provavelmente passou algum barco e eles não couberam.

Pareceu-me tudo intocado. Informei-me, com um velho empregado da TECNIL, que o encarregado dessa estrada era de Alpedrinha, Beira Baixa. Os velhos patrões da Tecnil, embora se dessem bem com Luís Cabral, não tiveram pedalada, e a seguir ao Luís ir embora, venderam tudo à Soares da Costa.

Quem não viveu aquela guerra e estava na idade, passou ao lado dum momento histórico, relevante, de Portugal e daqueles países. Eu, tendo oportunidade como tive, não os perderia jamais.
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Notas de L. G.:

(1) Vd. post de 4 de Fevereiro de 2006> Guiné 63/74 - CDXCVIII: Os dias felizes na ponte do Rio Undunduma (CCAÇ 12) (Luís GRaça / Humberto Reis)

(2) Vd. post de 29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)

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