domingo, 26 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Cumbamori, Senegal (Victor Tavares, CCP 121)



O ex-1º Cabo paraquedista Victor Tavares (BCP 12, CCP 121, Guiné 1972/74).

Fotos: © Victor Tavares (2006). Direitos reservados.

Texto do Vitor Tavares (1), com data de 15 de Novembro de 2006:


Operação Ametista Real - Assalto à Base de Cumbamori no Senegal

A 17 de Maio de 1973, a Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 recebe ordem para se integrar na operação acima referida, tendo-lhe sido atribuída a missão de garantir a segurança de um corredor entre Ujeque e Guidaje, através do qual se processaria a retirada dos Comandos Africanos

Nesse mesmo dia, da parte da tarde, embarcamos em Bissau, em LDG, com destino a Ganturé [, na margem direita do Rio Cacheu, a sul de Bigene], aonde desembarcamos no início da tarde do dia seguinte, partindo de seguida em marcha apeada em direcção a Bigene.

Chegamos aí pelo meio da tarde. Logo de seguida partimos para executar as primeiras acções de patrulhamento e emboscadas, até ao final da tarde do dia 19, sem que o IN se tivesse revelado.

Neste mesmo dia, provenientes de Bissau, chegam as 3 Companhias de Comandos Africanos e o Grupo de Marcelino da Mata (2).

Entretanto as 3 Companhias de Comandos Africanos formam também os agrupamentos seguintes:

-Agrupamento BOMBOX, do Tenente Comando Zacarias Saiegh, comandado pelo Cap Comando Matos Gomes;

-Agrupamento CENTAURO, do Tenente Comando Jamanca, comandado pelo Cap Comando Raul Folques;

-Agrupamento ROMEU, do Tenente Comando Quiseco, comandando Cap Paraquedista António Ramos.

Neste último estavam integrados também o grupo de operações especiais COE, com 25 elementos, comandados pelo Alfero Marcelino da Mata, assim como o Major Comando Almeida Bruno [, hoje general,] que era o comandante desta operação.

Os agrupamentos iniciaram o deslocamento apeado para a operação às 24 horas com intervalo mais ou menos de uma hora entre eles. Pelas quatro da manhã, inicia o seu deslocamento a CCP 121, com destino ao corredor que pretendia manter.

Entretanto ainda com os Paraquedistas dentro da área aonde pernoitámos, as forças do PAIGC atacaram o destacamento de Bigene com uma precisão incrível (não falhavam uma granada), obrigando-nos a sair em marcha acelerada desta zona.

É meu entendimento que foi um erro este ataque ter sido feito pelas forças do PAIGC, uma vez que as nossas tropas já se encontravam na zona, pelo menos o agrupamento que saiu em primeiro lugar deve ter referenciado o local de onde a flagelação estava a ser feita. O dia clareava e a tensão aumentava. Os homens dos agrupamentos estavam já dentro do Senegal, ouvíamos de vez enquanto o roncar de viaturas não muito longe, e o tempo passava sem que se ouvissem tiros ou explosões.

A informação que tínhamos era que esta base de Cumbamori servia de base de apoio aos guerrilheiros que sitiavam Guidaje e que atacavam as colunas que tentavam reabastecer o mesmo, tendo aí concentrados grande quantidades de efectivos das suas melhores forças, assim como de armamento.

Era aqui nesta base que se encontrariam os comandantes deste sector, Chico Té e Manecas, dois dos melhores e mais temidos, a par de Nino Vieira, comandantes do PAIGC.

Pouco passava das 8 horas quando se começam a ouvir o barulho de dois aviões bombardeiros FIAT G-91, acabando estes por bombardear o objectivo, atingindo alguns paóis e provocando varias explosões. Inicia-se então, a partir desta altura, o assalto pelas nossas forças dos Comandos Africanos do agrupamento BOMBOX, e depois pelos restantes agrupamentos.

Estes, pouco depois dos primeiros rebentamentos, entraram ao assalto tendo pouco tempo passado entrado em combate directo com as forças IN que se prolongaram até cerca das 16 horas .

Os comandos, durante os contactos que tiveram e conforme iam avançando, iam destruindo arrecadações de material de guerra de toda a espécie, debaixo de fogo intenso e quase ininterrupto. Foi uma luta encarniçada.

Não quero deixar de referir que, enquanto nos encontravamos emboscados próximos de uma picada, passaram várias viaturas blindadas tipo Panhards.

Por volta das 18 horas regressámos ao destacamento de Bigene, onde nem chegamos a parar, seguindo para Ganturé.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores do Victor Tavares:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida


(2) Vd. post de 16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973) (João Almeida Bruno)

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