sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1265: Recordações do ex-Alf Rainha (Xaneco, para os amigos), da CCAÇ 3490 (Saltinho), morto há 20 anos (Maurício Vieira, CCS/BCAÇ 3884)

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Guiné > Zona Leste > Bafatá > CCS do BCAÇ 3884 (1972/74) > O Mauríco Vieira nos arredores de uma tabanca de Bafatá. Ele está num campo de cultivo que eu não sou capaz de reconhecer. Amendoím (mancarra) ? De que cor era a flor da mancarra ? O comandante do seu batalhão era o tenente-coronel Correia de Campos , um grande militar já aqui evocado e elogiado por mais do que um dos nossos tertulianos (1) (LG).

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O ex-soldado de transmissões Maurício Nunes Vieira, nosso tertuliano desde Outubro de 2005. Trabalha em Sintra, na respectiva Câmara Municipal. Procura memórias do seu amigo Xaneco.

Fotos: © Maurício Vieira(2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem do Maurício Vieira (com quem já falei uma vez ao telefone):

Camarada Luís Graça, quando colocas as minhas fotos na Fotogaleria? Julgo que chegaram em boas condições, aliás já comprovado por ti, pelo que gostaria de as ver lá, não obstante compreender as inúmeras tarefas que tens no dia a dia, são emails e muito trabalho que te enviam.

Aproveito para lançar um apelo, a alguém que tivesse privado ou simplesmente conhecido o alferes Rainha (Xaneco):

Nome completo: Alexandrino José Fialho Correia Rainha.
Unidade BCAÇ 3872 - Galomaro (1972/74); CCAÇ 3490 - Saltinho (O Cmdt de Companhia era o capitão Lourenço) (2).

Lanço um apelo aos que o conheciam. Foi assassinado há quase vinte anos, era um grande amigo e leal companheiro. Julgo que o Sousa Castro, o Albano Costa e o Luis Carvalhido poderão ajudar. Desde já o meu muito obrigado a todos pelas eventuais informações que me possam prestar.

Um dia destes vou-te conhecer pessoalmente, será para mim uma honra poder conviver com alguém que, de alma e coração, muito tem contribuído para unir camaradas que sofreram na pele as agruras da guerra colonial. Um abraço e até breve.

Maurício Vieira 
CCS/BCAÇ 3884
Bafatá 72/74

 
2. Comentário de L.G.:

Tenho cá as tuas fotos desde 2 de Outubro de 2006. Estão OK e já foram inseridas na fotogaleria. Já lá estás, todo janota: podes mostrar os netos, que ainda são os únicos que te ouvem, te dão importância e te vão chamar herói...

Sobre o teu pedido àcerca do Rainha, já agora podias dizer-nos em que circunstâncias ele foi assassinado, há 20 anos. Sobre a minha modesta pessoa, só posso dizer-te que faço a minha obrigação... Mas as tuas palavras, simples e sentidas, são também um bom incentivo para levar para a frente, com a colaboração dos cento e tal camaradas e amigos que já temos, este projecto, bonito e solidário, de nos pormos todos a falar em voz alta, antes de demais uns para os outros, na nossa caserna... Bem hajas, pela tua contribuição, amizade e camaradagem.
Aparece, quando te apetecer. Sabes onde trabalho, sabes o número de telefone do meu gabinete de trabalho, na Escola Nacional de Saúde Pública, na Av Padre Cruz, junto ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a seguir ao Estádio do Sporting e da estação de serviço da BP: Gabinete 2A 47, telefone 21 751 21 38 (directo) (habitualmente, das 8.30h às 16.30h).

 
3. Esclarecimento imediato do Maurício Vieira:
 
Caro Luis Graça: 
O Alf Rainha (Em Carrazeda de Ansiães, Trás-os-Montes, tratávamo-lo por Xaneco) era uma pessoa muito popular, divertida e amigo do seu amigo. O seu pai era farmacêutico, tinha uma irmã também farmacêutica, possuíam em Carrazeda de Ansiães duas Farmácias [uma delas, a Farmácia Rainha]. Ele era, enfim, de família abastada.

Tinham uns terrenos que confinavam com um de um vizinho pouco recomendável, conflituoso e quase sempre com o álcool. Um dia o tal indivíduo implicou com o Rainha nesses terrenos e, acto contínuo, puxou da pistola e disparou à queima-roupa, tendo o meu amigo morte imediata.

Sem exagero, todo o concelho chorou a sua morte, era muito benemérito, deixou órfãos uma filha de 11 anos e um filho de 9, a esposa é fisioterapeuta, de forma que com o seu trabalho e património (que felizmente possuíam), conseguiu formá-los, a filha farmacêutica como é tradição da família. Eis, em resumo, o trágico fim de quem era muito querido e popular.

Um abraço
Maurício Vieira

 
4. Comentário de L.G.:

Essa estória do teu amigo e nosso camarada Rainha é triste. Como é que um homem, que sobreviveu à guerra da Guiné - o nosso Vietname - vai morrer, deixa-se morrer, de morte matada, na sua terra, em Trás-os-Montes... Não vou especular sobre a cultura da honra que leva, por vezes o transmontano a puxar de armas de fogo para resolver conflitos que ele acha insanáveis noutras instâncias e que têm a ver com o orgulho de macho, a territorialidade, a propriedade, a honra...

Seguramente, temos aqui tertulianos que conheceram o teu amigo (e, presumo, teu conterrâneo) Xaneco (aliás, Rainha). Há camaradas nossos que o devem ter conhecido, no Saltinho, a começar pela malta da sua companhia, como o Joaquim Guimarães (que vive hoje nos EUA)... Mas também malta de outras unidades que conviveram, seguramente, com ele: o Paulo Santiago (do Pel Caç Nat 53), o Martins Julião e o Carlos Santos (da CCAÇ 2701), e outros.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 9 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXIV: Camaradas do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74), procuram-se!

(...) "Gostaria de contactar com ex-combatentes do BCAÇ 3884, do qual faziam parte a CCAÇ 3547, CCAÇ 3548 e CCAÇ 3549, estacionadas em Geba, Fajonquito e Contuboel, respectivamente .

"Eu fazia parte da CCS, que estava sedeada em Bafatá (1972/74). Era comandante o tenente coronel Correia de Campos, o 2º comandante era o conhecido major Vargas (ligado ao Ginásio Clube Português).

"Eu era radiotelegrafista (...). Telemóvel: 914614074; Telefone de serviço > 219236088 (Câmara Municipal de Sintra)" (...).
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Notas de L.G.:

(1) Sobre a figura do então tenente-coronel Correia de Campos, um dos heróis de Guidaje, vd. posts de:

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1235: Coronel Correia de Campos: um homem de grande coragem em Sambuiá e Guidaje (A.Marques Lopes)

(...) "Eu conheci o tenente-coronel António Correia de Campos num dia de 1968, quando eu estava com a CCAÇ3 de Barro, durante uma operação realizada no corredor de Sambuiá e por ele comandada (foi nessa altura também o comandante do COP3).

"No meio do fogachal de uma emboscada vi a sua figura insólita, para as circunstâncias, de pingalim de cavaleiro, pistola e coldre à cowboy, seguros com um fio à volta da coxa direita, sempre em pé e gritando:
- O morteiro está à direita, uma bazucada para lá!... Fogo intenso para o lado esquerdo, é lá que está o RPG!" (...)

28 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1220: Guidaje, Maio de 1973: o depoimento do comandante de um destacamento de fuzileiros especiais (Alves de Jesus)

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

(...) "Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o Coronel Correia de Campos, que comandava o COP3 ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.

" (...) O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. CDurante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento" (...).
 

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