quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1258: Dicas para o viajante e o turista (3): transportes colectivos: o táxi, o toca-toca e o candonga (Luís Graça / Sofia Branco)

Guiné > Zona Leste > Bambadinca > 1969 > A festa do fanado. Imagem enviada em 19 de Setembro de 2006, pelo Beja Santos. Fazia parte de um conjunto de três fotografias que, dizia ele no e-mail, tinha um significado especial para ele. "A primeira refere-se a um fanado de raparigas e a fotografia foi tirada na rua principal de Bambadinca, na área comercial, e espero que te possas recordar do chão avermelhado da laterite. Seria bem interessante que se escrevesse sobre o fanado (se por acaso não haja já nenhum desses escritos no blogue)" (1)... De qualquer modo, hoje em dia para se ir de Bissau a Bambadinca ou a Bafatá, por exemplo, tem que se alugar um jipe (o que é caríssimo, talvez 200 euros por dia) ou então apanhar um candonga (2)...

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.


1. A jornalista Sofia Branco publicou, no Público.pt, de 6 de Outubro de 2003, um delicioso, bem-humorado e muito útil - para o viajante e o turista - artigo sobre os transportes colectivos da Guiné-Bissau: os táxis, os toca-toca e os candonga, que segundo ela são os heróis do asfalto (eu diria: depois dos peões)...

Façam o favor de ler o artigo na íntegra, que eu não posso publicá-lo aqui, sem autorização da autora e do editor... É também uma pequena homenagem à Sofia Branco que tem sido a jornalista que mais tem investigado e escrito, em português, sobre a Mutilação Genital Feminina. Ela é, de resto, uma observadora atenta, sensível e profunda da realidade sociocultural da Guiné-Bissau de hoje.

O dossiê do Público.pt sobre este tema - a Mutilação Genital Feminina - está disponível em linha. Já aqui chamámos para a actualidade e a importância do trabalho, de resto, premiado, da Sofia Branco, e para a persistência desta prática cultural que viola os direitos humanos da mulher, na Guiné-Bissau, entre alguns grupos étnicos, bem como noutros sítios de África (1).

2. Mas vamos ao tema deste post sobre dicas para o viajante e o turista em terras (e águas) da Guiné-Bissau: afinal, o que é que são os toca-toca e os candonga ? Aqui ficam alguns excertos do artigo da Sofia Branco (Táxis, toca-toca e candongas: os heróis do asfalto na Guiné-Bissau) (negritos meus):

(...) "À semelhança de muitos outros países, na Guiné-Bissau, os táxis são verdadeiros transportes colectivos. Os lugares vagos podem ser ocupados por gente totalmente desconhecida do primeiro cliente. Uns minutos na estrada e parecem já grandes amigos, tal a intimidade com que se tocam e roçam de cada vez – que é constantemente – que o carro dá um solavanco. Esta proximidade é ainda maior num toca-toca – aliás, o próprio nome vem do facto de as pessoas estarem constantemente a tocar-se. Nos toca-toca, a entrada só é vedada a um cliente quando os rabos dos outros passageiros já saem pelas janelas e quando alguns rapazes já vão de pendura nas portas de trás da carrinha, pé dentro, pé fora. Até que isso aconteça, pode entrar, sem saber, no entanto, se vai conseguir sair" (...).

(...) "Para sair ou entrar em Bissau, com destino às principais cidades, como Bafatá ou Gabú (Nordeste), os guineenses usam um meio de transporte ao qual chamam candonga. É uma carrinha semelhante ao toca-toca, mas com licença para passar os inúmeros postos de controlo espalhados pelo país. Se for em carro particular, poderá ter a sorte de ter apenas de abrandar antes de seguir caminho. Mas as candongas param sempre junto ao homenzinho que, à sombra de uma árvore, segura uma corda presa ao tronco de uma outra árvore, do outro lado da estrada. Os passageiros são obrigados a sair para voltarem a entrar, do outro lado da corda" (...).

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Notas de L.G.:

(1) Sobre o fanado nas raparigas (ritual de passagem onde se inclui a prática da MGF, e nos rapazes, a circuncisão), já se escreveu aqui alguma coisa...Vd. posts de:

4 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XII: O silêncio dos tugas face à MGF (Mutilação Genital Feminina) (Luís Graça)

15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLVII: A festa do fanado ou a cruel Mutilação Genital Feminina (Jorge Cabral)

15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLVI: Conferência sobre a Mutilação Genital Feminina

(2) Candongueiro, em Angola:

(...) O cheiro fétido do humano
Viaja nos candongueiros
Que atravessam de lés a lés
A tua rede de túneis-formigueiros,
As tuas entranhas,
O teu tutano,
A tua essência.
Alguém poderia achar essas correrias loucas
Se não soubesse quem tu és,
Mas tu tens o teu tempo e a tua medida,
Ó cidade das mulheres empreendedoras,
Peritas na arte da sobrevivência. (...)


Glossário de termos do falar local: Candongueiros > Os endiabrados táxis colectivos de Luanda. Param um qualquer sítio e levam sempre mais um passageiro para além da sua lotação máxim. Cada viagem custa 30 kwanzas. O termo vem de candonga (contrabando). "Inicialmente o contrabando de peixe seco. Só muitos anos mais tarde se passaria a usar o termo candongueiro para designar os contrabandistas de diamantes ou, mais tarde ainda, os novos taxistas luandenses do chamado processo dos 500" (Segundo leio no sítio de um brasileiro sobre os países e comunidades de língua portuguesa).

Vd. Blogue-Fora-Nada ... e Vão Dois > post de 7 de Novembro de 2005 > Blogantologia(s) II - (12): Luanda (re)visitada

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