sábado, 4 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1247: Questões politicamente (in)correctas (8): A nossa linguagem de caserna (David Guimarães / Luís Graça)

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Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > O David Guimarães, ao centro, em amena cavaqueira com o Humberto Reis, à direita, e a esposa deste, a Teresa, à esquerda (ambos estão de costas.

Foto:© Manuel Lema Santos & esposa (2006) (com a devida vénia...) . Fonte: página pessoal do Manuel Lema Santos > Encontro na Ameira > 14 de Outubro de 2006 > Luís Graça & Camaradas da Guiné . Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Texto do David Guimarães, com data de 24 de Outubro último:


Independentemente de tudo, também é verdade que, se certos termos [tuga, nharro, turra, etc. ] poderão parecer ser ofensivos, eles só o serão efectivamente segundo a carga emocional que se coloca atrás. Contudo poderá evitar-se, sim, uma vez que poderão ser mal interpretados (1)...

Vocês perdoem-me mas vamos ter cuidado em não cair em textos demasiadamente elaborados, senão entramos no capítulo do romance e, então, os textos começam a ganhar qualidades literárias em demasia e a perder a outra qualidade, que é falar-se sobre o que acontece... A linguagem simples e perceptível é documento para todos, a outra não o será... Falamos na caserna, que assim seja, mas linguagem de caserna menos descuidada...

Os cuidados do Luis são pertinentes, sim... Contudo sei que nada é ofensivo, mas enfim... Às vezes com a palavra mais bem dita - aparentemente - dá-se uma grande facada, sem querermos (...).

Sendo que a guerra foi a mesma, os episódios são bem diferenciados. O atropelamento deverá evitar-se e sempre, mas a correcção, essa sim, é necessária... Aconteceu isto e aquilo... e outros dirão: bem, não foi assim mas assim e assado... E isso é muito bom.

A guerra, toda ela é um drama mas não nos fixemos demasido numa ou noutra acção dramática, Contemos, sim, como estamos a fazer: a bebedeira de cerveja, a vez que eu e o Martis (Ranger da CART 2716) estavamos ambos na vala a conversar. Nem força tínhamos para subir aquele metro e meio, tinhamos misturado várias qualidades de bebidas alcoólicas na cerveja... É que a guerra foi tudo isso, e muito mais...

Vi hoje um comentário do Vinhal (2), partilho o ponto de vista dele e o que estou a dizer é senão um reforço ao que João Tunes diz (3)... em volta do General Luís, que não se cansa de enquadrar tudo lá nos sítios devidos...

Que difícil será aturar esta tropa!


Um abraço
David Guimarães

2. Comentário de L.G.:


E siga a marinha, a força aérea e o exército, coadjuvados pelas bajudas, os básicos, os capelões e as senhoras enfermeiras (que nunca mais aparecem, senhores enfermeiros Zé Teixeira, Baia, Rui Esteves, João Carvalho...).

Obrigado, David, pelas tuas reflexões, mas nunca te esqueças que és um homem do Norte, carago!

Obrigado, Carlos, pela tua confiança no timoneiro...

Obrigado também ao João Tunes que, como bom transmontano tresmalhado em terra de mouros, gosta de pensar pela sua cabeça, e por isso faz questão de acentuar: blogue colectivo, sim, mas não colectivista... Pluralíssimo, pois, claro... E onde todos são camaradas, e não há senhores camaradas, ou seja, camaradas mais camaradas do que outros...

João, andava a sentir, a tua falta... Gostei dessa: para o bem e para o mal, nós estivemos lá! O único problema é o teu descritor ultrapassar, em muito, os 500 caracteres que os gajos do Blogger.com nos autorizam (são caracteres, e não palavras, como eu escrevi ontem...). Tens 148 palavras, 743 caracteres (sem espaços), 891 caracteres (com espaços)... Mas o mais importante são as ideias: as palavras depois arrumam-se...

David: Só não gosto dessa do general... Um gajo como eu que um dia disse que limpava o c... às folhas do RDM, nunca poderia chegar a general... João: E tu, se promoves a comandante, eu corro o risco, um dia destes, de estar como o teu querido Coma... Andante...

O melhor, amigos e camaradas, é não me nobilitarem... Os meus avoengos eram do mar, nasciam no mar, viviam do mar, morriam no mar, ou à beira-mar: na época dos Descobrimentos, foram arrebanhados, à força, para servir nas naus, como parte da guarnição (e não tripulação, como me corrigiu o comandante, esse, sim, de jure et de facto, Pedro Lauret)... Eram Maçaricos, esses meus antepassados, e o nome ficou na família, lá para os lados de Ribamar da Lourinhã (4)...

Se me quiserem promover, estou lixado... Não esquecerei o aviso que, no tempo do Senhor Dom Carlos se fazia aos cães de Lisboa, a acreditar no Ramalho Ortigão: Foge cão, que te fazem barão... Mas para onde, se me fazem conde?...

Em resumo, estamos a precisar de ouvir mais umas estórias bem curtidas do Jorge Cabral ou do Rui Felício que são tão boas ou melhores do que a lebre com feijão que a gente não chegou a provar na Ameira... E a propósito, já abriram o último post, com o videoclipe (que palavrão!) do Zé Luís e o Fernando Calado no cante alentejano ?... Pois não percam (5)...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1225: Questões politicamente (in)correctas (1): Descrição do nosso blogue (Luís Graça)

(2) Vd. post de 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1226: Questões politicamente (in)correctas (2): Tugas, nharros e turras (Carlos Vinhal)

(3) Vd. post de 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1227: Questões politicamente (in)correctas (3): Blogue colectivo, mas não colectivista (João Tunes)
(4) V. post de 12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIV: Cabo Verde (1941/43) (1): os mortos e os esquecidos do império

(...) "Uma saga que durou cinco séculos, e que atravessou a minha própria família do lado paterno: a minha bisavó [ Maria Augusta ] Maçarica, nascida em Ribamar em 1864, descendia justamente dos pobres diabos arrebanhados, à força, para os porões das caravelas e nas naus. Embarcados como pau para toda a obra, daí a alcunha (Maçaricos) e, possivelmente mais tarde, o apelido de família (Maçarico).

"O mar marcou-os de tal maneira que nunca conseguiram viver longe dele: foram (e continuam a ser) gente ribeirinha, concentrados maioritariamente em Ribamar da Lourinhã, mas também com um possível núcleo em Mira, sendo marinheiros, aventureiros, mercadores, pescadores, calafates, construtores de barcos, mestres de traineiras, pescadores de lagosta, pescadores do alto, cabos de mar, peixeiros, negociantes de peixe, donos de restaurantes, tascas e hotéis à beira mar, perdidos e achados nas setes partidas do mundo, junto aos cais" (...) .
Devo acrescentar que o meu concelho, o concelho da Lourinhã, também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. Se nos reportarmos às três últimas décadas (ao período de 1968 a 2000), sabe-se que houve seis naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece). Um desses naufrágios foi o do barco Deus é Pai, em 26 de Março de 1971, no Mar do Serro, ao largo do Cabo Carvoeiro. Os restantes foram os do Certa (15 de Maio de 1968), Altar de Deus (6 de Novembro de 1982), Arca de Deus (17 de Fevereiro de 1993), Amor de Filhos (25 de Julho de 1994) e Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de Julho de 2000). Entre estes homens há parentes meus, da grande família Maçarico.
Muito provavelmente também é descendente desta linhagem plebeia o Domingos Maçarico, ex-alferes miliciano da CART 1690, ferido no decurso da Op Jigajoga 2, em 31 de Agosto de 1967: vd. post de 3 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XXXIX: Sinchã Jobel II e III

5) Vd. post de 3 de Junho de 2005> Guiné 63/74 - P1208: Eu ouvi o passarinho, às quatro da madrugada (J.L. Vacas de Carvalho / Fernando Calado)

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