terça-feira, 12 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1064: Hoje, Amílcar Cabral faria 82 anos se fosse vivo (Marques Lopes)

Capa do livro Amílcar Cabral : para além do seu tempo, de Oscar Oramas (Lisboa: Hugins Editores, Lda, 1998; tr. de João Marques; 173 pp.; preço: c. 15 €). Oscar Ormas é cubano (n. 1936), formado em Filosofias e Ciências Políticas. Foi embaixador de Cuba na Guiné, Mali, Guiné Equatorial, Angola e S. Tomé e Príncipe. Foi também representante permanente do seu país nas Nações Unidas (Nova Iorque, 1984-1990).

Foto: © A. Marques Lopes (2006)


Mensagem do nosso camarada A. Marques Lopes, coronel DFA, na reforma, ex-alferes miliciano na Guiné (1967/68) (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968), dirigente da Associação 25 de Abril (A25A) - Delegação do Norte.

Caros camaradas:

Hoje, 12 de Setembro, Amílcar Cabral faria 82 anos se fosse vivo. E a Guiné-Bissau seria diferente, talvez... É uma figura que merece todo o respeito e admiração, mesmo dos inimigos que contra ele combateram. Permitam-me, pois, que transcreva o que dele diz Oscar Oramas no prefácio do seu livro Amílcar Cabral : para além do seu tempo, da Hugins - Editores, Lda., publicado em 1998.

Abraços
A. Marques Lopes
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“(...) Amílcar Cabral tem o valor do exemplo e a sua vida e obra reclamam, não só serem reconhecidas, mas também estudadas como referência de quem contribuiu de maneira decisiva para a libertação dos povos sob dominação colonial no continente africano, particularmente os subjugados por Portugal e tentou que os filhos desses países tivessem lugar reconhecido na civilização universal.

"Tanto pelo seu pensamento como pela sua estatura política, Cabral ultrapassa o panorama da luta contra o colonialismo português, e deve ser considerado uma das principais figuras do Terceiro Mundo, na sua época, esse mundo que não só reclamava a independência nacional, mas também a emancipação social e o desenvolvimento económico.

"Homem de grande cultura, não só autóctone, como europeia e universal, adquirida tanto em Portugal como nas suas viagens por diferentes países, caracterizou-se, fiel às tradições das suas raízes, por ser um excelente orador, como soe dizer-se actualmente – um comunicador. Hábil a cativar o interlocutor e brilhante negociador capaz de abordar qualquer tema com simplicidade, sem palavras rebuscadas, mas com evidente profundidade.

"Personagem multi-dimensional no quadro da sua acção, Cabral deixou nos seus escritos um balanço de excepcional riqueza: a capacidade de situar o colonialismo português como muito atrasado para manter o seu domínio colonial e muito ligado a um passado glorioso mas distante para pensar como metrópole; o conhecimento concreto das estruturas sociais das populações da Guiné Bissau e Cabo Verde, adquirido pela prática no terreno e por uma análise baseada, entre outros por um aporte conceptual das tendências filosóficas mais modernas, entre elas as de Marx e Lenine; a tenacidade dos verdadeiros criadores para construir pacientemente um partido, que estabeleceria, em primeiro lugar, as bases da identidade nacional com vista a traçar uma estratégia que promoveria a formação de quadros, estabeleceria uma infra-estrutura clandestina no seio da população, que conduziria à luta armada e a negociações políticas mediante uma organização democrática nas regiões libertadas e a seu tempo levaria o espírito da revolta pela independência nacional ao Arquipélago de Cabo Verde.

"A década de 1960, em que se inicia a luta de libertação na Guiné Bissau com intenção de a levar também ao coração de Cabo Verde, foi um momento particular da História, pois numerosos países africanos ascenderam à independência e só ficaram debaixo do jugo colonial os territórios portugueses, o Sudoeste Africano, a Rodésia do Sul e esse crime de lesa-humanidade que se chamou apartheid na África do Sul.

"A guerra fria estava em todo o seu esplendor e dois modos de produção antagónicos tipificam o panorama do planeta. Tensões aqui, ali e acolá, povos desejosos de ultrapassar o limiar das independências para percorrerem o caminho da soberania real e da construção económica, e para tanto batalhas por vezes cruéis, com as grandes multinacionais que insistiam no controlo económico das riquezas que jaziam no solo dos novos estados.

"Foi neste contexto que diplomática e habilmente Cabral logrou estabelecer relações de vizinhança, às vezes conflituosas, no meio de circunstâncias por vezes adversas, com a sabedoria necessária para obter o apoio de numerosos governos africanos e promover a ajuda de certos governos e organizações não governamentais ocidentais, obtendo a sua cooperação ou reconhecimento da luta de libertação, contribuindo assim para a crise do colonialismo português e posterior queda do regime fascista em Portugal.

"Cabral, com tacto e discernimento, logrou situar-se para além da polémica sino-soviética, e com uma perspicácia extraordinária criou um clima favorável para a sua causa em Moscovo, sem tomar partido contra Pequim.

"Elaborou uma teoria original ao considerar as particularidades da luta de classes no quadro das sociedades africanas, afectada sensivelmente pêlos problemas tribais, regionais e religiosos no contexto social africano; o papel e a ambivalência da pequena burguesia à frente dos movimentos de libertação nacional e o papel da cultura na luta contra o colonialismo português. O seu profundo conhecimento do meio social em que se desenvolveu, levou-o sempre a tomar em consideração o nível e os sentimento do seu povo e uma das suas preocupações fundamentais é de nunca o ultrapassar com acções que poderiam ir para além da compreensão do mesmo.

"Um desaparecimento prematuro e trágico transformou-o numa figura mítica. Foi o fundador da Nação e do partido; a sua obra não foi só a de quem dirigiu a luta armada, mas também a do pensador, a do homem que projectou um futuro para o seu povo e desenhou as bases e os caminhos do seu desenvolvimento. Foi também o poeta que sonhou e que sonhando fez história. Com esta obra queremos render merecida homenagem aos povos da Guiné Bissau e Cabo Verde, e, através deles, a todos os que foram vítimas do colonialismo português. (...)"

2 comentários:

Anónimo disse...

DENTRO DA FORTALEZA D'AMURA TEM UM PEQUENO MAUSOLEU AO AMILCAR CABRAL.TAMBEM HÁ PROJECTOS TODOS OS ANOS NO ANIVERSÁRIO DELE,PARA ERGUER UM MONUMENTO.MAS ESSES PROJECTOS SÓ DURAM ESSE DIA DO ANIVERSÁRIO, PENSO QUE EM JANEIRO.NINGUEM PERGUNTA PORQUE EM BISSAU, AMILCAR NAO TEM UM MONUMENTO. É CHATO...!ALGUEM FAÇA A PERGUNTA TALVEZ ALGUM GUINEENSE REPONDA.antónio e.rosinha alverca

Anónimo disse...

NA GUINÉ COMEMORA-SE O ANIVERSÁRIO DO ASSASSINATO DE AMILCAR CABRAL. EM JANEIRO. NESSA DATA ANUALMENTE SE FALA NO PROJECTO DE UM MONUMENTO PARA AMILCAR. DENTRO DA FORTALEZA D'AMURA TEM UM PEQUENO MAUSOLEU. NINGUEM PERGUNTA PORQUE NÃO EXISTE UM MONUMENTO EM BISSAU. GOSTAVA DE OUVIR UM GUINEENSE EXPLICAR A RAZÃO...ÀS VEZES OS GUINEENSES SURPREENDEM QUALQUER UM. antonio e. rosinha