segunda-feira, 26 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P914: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (1): Bissau

Gui´né > Zona Leste > Sectro L1 > Bambadinca > O Ten Cor Polidoro Monteiro (1), comandamte do BART 2917, o Alf Médico Vilar e o Alf Paulo salgado "vendo a dentadura do crocodilo"... Foto tirada possivelmente "em inícios de Dezembro de 1971 no Mato Cão", após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento (com a missão de proteger a navegação no Geba Estreito). As condições eram péssimas, diz o Paulo. "Atrás do Comandante, nota-se um mosquiteiro. Não havia valas, unicamente uns buracos individuais,com a dimensão dos colchões".

Foto: © Paulo Santiago (2006)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Finais de Março de 1972. "Perto da foz do Cantoro, minutos antes de um terrível ataque de abelhas" (PS).

Foto: © Paulo Santiago (2006)



Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > 1971 (?) > "Noite de copos em Bambadinca. Estou de camuflado, o Alf Machado à civil. Penso que os soldados são da CCS [do BART 2917]" (PS).

Foto: © Paulo Santiago (2006)
Guiné-Bissau > Jugudul > Fevereiro de 2005 > O Paulo Santiago, à esquerda, com o Ten Ká da Guarda Fiscal e o Sado, oficial superior da mesma força e "meu grande amigo". Foto tirada junto à rotunda, em Jugudul.

Foto: © Paulo Santiago (2006)




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > Fevereiro de 2005 > Com os meus antigos soldados Bubacar e Mamadú, estando abaixado o filho do meu soldado Iero Seidi, já falecido.

Foto: © Paulo Santiago (2006)

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Texto do Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Bambadinca, 1970/72), actualmente residente em Aguada de Cima, Águeda, um dos melhores sítio do mundo para se comer leitão...

Luís:

Vou procurar descrever a minha visita à Guiné, feita juntamente com o meu filho João Francisco. Era para ter sido feita em 1998, devido à guerra teve de ser adiada.Esteve progamada para várias datas juntamente com alguns camaradas da CCAÇ 2701, mas chegava a hora e por qualquer motivo havia adiamento. Em Janeiro de 2005 convidei o João, tinha 20 anos,para ir comigo. Acedeu e marquei viagem para a semana de Carnaval.

Em 4 de Fevereiro, após uma noite mal dormida,imaginando o que iria encontrar,embarcámos às 8 horas no voo da TAP com destino a Bissau. Gosto pouco de andar de avião, mas aquelas horas de voo passei-as muito bem.

Quando começou o sobrevoo da Guiné a emoção começou a apoderar-se de mim...tinham-se passado 33 anos. Quando assomo à porta do avião sobe-me às narinas aquele cheiro de que tinha tantas saudades. Como gosto daquele aroma e como o tinha guardado no meu intimo. Na pista tinha à minha espera o meu amigo Sado,oficial superior da Guarda Fiscal, que por motivos de saúde vem várias a Portugal, dando-me o prazer de ficar em minha casa e que trata a minha mãe por avó.Dirigimo-nos à sala de desembarque, onde está uma senhora, vim a saber da segurança,com um papel com inscrição Santiago. Tinha sido um pedido da Residencial Coimbra onde iríamos ficar. O Sado e a senhora encaminharam-nos pela saída diplomática. Senti-me importante. Havia dois carros para nos levarem: um da Residencial e outro do Sado. Vim no da Residencial e o meu filho com o Sado.

Durante o percurso corria-me um filme na cabeça, passado nos anos de 1970/1972. Acordo, está ali o Poilão de Brá e toda aquela confusão, que não existia no nosso tempo de jovens, que é o Mercado de Bandim. Chego à Residencial Coimbra, na casa Nunes e Irmão, perto da Catedral, oferecem-me um Gin, mas quero é ir para a rua, ver pessoas, ver locais.



Guiné-Bissau > Bissau > 2001> Restaurante Lusófono, junto ao Aeroporto de Bissau... Em primeiro plano, o Dr. Vilar, à esquerda, e o David Guimarães. O Dr. Vilar foi alferes miliciano médico do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e, como tal, também foi médico do pessoal da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto: © David J. Guimarães (2005)


Vimos para a rua, o Sado foi para o serviço, venho eu e meu filho. As pessoas cumprimentam-nos (Boa Tarde),e eu emociono-me,estou num País estrangeiro e cumprimentamo-nos como se eu estivesse aqui, em Aguada. A Língua que nos une é um bem valioso.

Passamos em frente à Catedral, ao antigo edifício dos CTT, ainda com estas iniciais, ao ex-BNU, ao local onde existiu o Bento, agora edifício da Televisão, chegamos ao porto onde desembarquei do Alfredo da Silva. Regressamos passando pelo sitío onde ficava o Pelicano, o Pintosinho, flectimos para passar junto à Amura, regressando à Residencial para beber calmamente um Gin Tónico.

À noite, com o meu filho, fomos jantar a um restaurante em frente ao Grande Hotel, ruas sem luz, as pessoas a darem as Boas Noites, sem sentirmos qualquer insegurança.

Foi assim o meu primeiro dia em Bissau após Agosto de 1972. Continuarei a contar-te, em próximas mensagens, os restantes dias.

Um abraço
Paulo Santiago

(ex-Alf Mil Pel Caç Nat 53, 1970/72)

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Nota de L.G.

(1) Sobre o Polidoro Monteiro, vd. posts de:
18 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLVIII: Estórias cabralianas (4): o Jagudi de Barcelos

(...) Dos quatro Comandantes de Bambadinca que conheci, apenas o Polidoro Monteiro me mereceu consideração. Dos outros nem vou dizer o nome, e de dois a imagem que guardo é patética (...) (Jorge Cabral]
29 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1)
(...) No ano passado esteve connosco o Major (Coronel Aposentado) Anjos de Carvalho... Vamos ver se este ano vem também o [major de operações] Barros e Bastos... O Polidoro Monteiro e o Magalhães Filipe já faleceram. O Polidoro Monteiro, sim, operacional, como tu dizes e bem, sempre o foi...
"Quanto ao Vilar fácil será encontrá-lo, Psiquiatra Marques Vilar, vais dar a ele [em Aveiro]...Poderei arranjar a direcção dele, fica descansado" [David Guimarães].
26 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXVI: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (6)
(...) Um dia o Comandante do BART 2917, já na sobreposição, apareceu no Xitole. O Luís Graça e o Humberto Reis conheciam-no. Era o Tenente Coronel Polidoro Monteiro... Conto-vos uma peripécia passada com ele. Perguntava eu, bem perfilado, ao Polidoro Monteiro:
- Meu comandante, a nossa missão é ir ensinar o caminho a esta gente...Proponho que ensinemos o início dos caminhos por onde passamos tantas vezes....Resposta:
- Vai-te foder, seu caralho, quero que lhes ensinem a toca....Deu em riso, como é evidente... [David Guimarães]

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