sábado, 27 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P806: O 'turra' Luandino Vieira recusa Prémio Camões (João Tunes)

Luandino Vieira, escritor angolano, nascido em Vila Nova de Ourém, em 1935. Prémio Camões da Língua Portuguesa 2006.

Foto: Editorial Caminho (2006) (com a devida vénia...)


1. Desafiei há dias o João Tunes para escrever um pequeno texto sobre a atribuição do Prémio Camões de Língua Portuguesa 2006 ao escritor angolano, de origem portuguesa, Luandino Vieira, o terceiro atribuído a um escritor africano... O prémio, no valor de 100 mil euros, é patrocinado em partes iguais pelos ministérios da cultura de Portugal e Brasil... Luandino Vieira, um reinventor da língua portuguesa (sem o qual possivelmente não teria sido possível o aparecimento de um Mia Couto, moçambicano, ou de Ondjaki, angolano) é hoje praticamente desconhecido por parte dos nossos jovens.

Recorde-se que em 1965, em plena guerra colonial, e quando o escritor estava preso no Tarrafal, foi-lhe atribuído o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Autores pelo seu livro Luuanda, facto que foi considerado uma grande afronta pelo regime de Salazar, o que levou ao assalto e destruição da sede daquela Sociedade por legionários e por pides e à sua posterior ilegalização. Recordo-me perfeitamente destes acontecimentos: Estávamos em plena guerra colonial. Em 1965, eu tinha 18 anos. Aos 22, em 1969, eu estava na Guiné. (LG)

Eis a resposta, célere, do nosso sempre bem informado, acutilante, frontal, João Tunes:

"Quanto ao repto sobre um texto sobre o turra Luandino Vieira e o seu Prémio Camões, aqui vai ele (em exclusivo para o nosso blogue):

"Um Turra, chamado Luandino Vieira, que também foi e é escritor, foi premiado com o Prémio Camões, o Poeta Maior da expansão do nosso Império. O Turra não aceitou o Prémio dado pelos Tugas. Ou os Turras são ingratos ou os Tugas atrasaram-se na reparação dos estragos feitos em 1965 quando o Turra estava no Tarrafal e a Pide dos Tugas destruíu a Sociedade Portuguesa de Escritores.

"Um grande abraço e outros tantos para todos os estimados camaradas tertulianos".
João Tunes

Sobre a recusa do prémio, vd. também post do João Tunes, no seu blogue Água Lisa 6, de 25 de Maio de 2006.


2. O que disseram os jornais (LG):

"Luandino Vieira: o resistente

"José Luandino Vieira, ou melhor, José Vieira Mateus da Graça, nasceu em Portugal em 1935 e foi aos três anos para Angola. Envolvido em movimentos nacionalistas, é preso pela PIDE em 1959 e depois em 1961.

"É no Tarrafal, prisão em Cabo Verde para onde é transferido em 1964, que descobre Guimarães Rosa, o escritor que mais o influenciou. A maioria da sua obra é escrita antes de 1975, ano em que regressa a Luanda, depois de passar por Lisboa.

"A Vida Verdadeira de Domingos Xavier (1961), Luuanda (1963), No Antigamente, na Vida (1974) e Nós, os do Makulusu (1975) são algumas das suas obras mais conhecidas.

"As suas ideias obrigaram-no a passar mais de dez anos no Tarrafal e a ter residência fixa depois de libertado, em 1972. Vinte anos depois, diria ao escritor Agualusa, a propósito da guerra em Angola: 'Hoje de manhã vi, no meio de um tiroteio infernal, um homem a atravessar a rua numa cadeira de rodas. É isto que nós somos, um país de cadeira de rodas no meio dos tiros.'

"Vive em Portugal desde o início dos anos 1990" (Fonte: Público, 27 de maio de 2006)

3. Obras de Luandino Vieira publicadas, em Portugal, pela Editorial Caminho :

Nosso Musseque (1.ª edição, 2003) «Outras Margens», n.º 13

A Vida Verdadeira de Domingos Xavier (1.ª edição, 2003) «Outras Margens», n.º 18

Nós, os do Makulusu (1.ª edição, 2004) «Outras Margens», n.º 26

João Vêncio: os Seus Amores (1.ª edição, 2004) «Outras Margens», n.º 29

Luuanda (1.ª edição, 2004) «Outras Margens», n.º 36

No Antigamente, na Vida (1.ª edição, 2005) «Outras Margens», n.º 39

Macandumba (1.ª edição, 2005) «Outras Margens», n.º 43

Velhas Estórias (1.ª edição, 2006) «Outras Margens», n.º 51

1 comentário:

Anonymous disse...

Gostava de saber como contactar com o Luandino Vieira. Foi meu colega de liceu, o ex-Salvador Correia, e ainda o estou a ver, como se fosse hoje, com a sua vestimenta de caqui que sempre usava.Por favor informar-me para edcarvalho@live.com.pt