quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P475: O Conde de Lippe, o sargento e a licença disciplinar (Zé Neto)

Guine > Guileje > 1968 > Bajudas da tabanca transportando o precioso líquido... Imagem (diapositivo digitalizado) do arquivo pessoal do capitão, reformado, José Neto (ex-1º sargento da CART 1613, Guileje, 1967/68)
© José Neto (2006)

Meus amigos, especialmente o David Guimarães e Marques Lopes (1):

Eu prometi ao Luis que ia ficar aqui quietinho no meu canto até a alfândega desembaraçar a muita mercadoria que aguarda vez de entrar no blogue (2). Mas vocês parecem pertencer à nobreza e por isso...Por isso eu vou citar de memória uma das ordenações do Conde de Lippe, que reorganizou o nosso exército no século XVIII, salvo erro: "O primeiro sargento da companhia tem de saber ler e escrever porque o capitão pode ser nobre e não saber"...

Este vosso amigo alcançou o posto de capitão, mas de modo nenhum enjeita, antes se orgulha, de ter cerca de vinte anos de sargento, nove dos quais, com as três divisas, sempre a desempenhar as funções de 1º sargento (mais económico para o erário, tal como os cabos milicianos).

Pois bem: O RDM (atenção que já foi remodelado em 1976 e, para além duns parágrfos ficou igual) previa no seu Artigo 109º que aos militares PODIAM ser concedidos 30 dias de licença em cada ano civil, desde que no ano anterior não tivessem sofrido qualquer pena disciplinar.

Esta licença só podia ser concedida SEM PREJUIZO DO SERVIÇO.Um dos tais § de 1976 foi acabar com esta última condição, o que aliás já estava estatuído, por circular do então ME [Ministério do Exército], desde meados dos anos sessenta.

Guiné > Guileje > 1968 > Aqui também havia crianças felizes, capazes de um sorriso do tamanho do mundo, apesar da guerra, do medo, da falta de água e de alimentos... Imagem (diapositivo digitalizado) do arquivo pessoal do capitão, reformado, José Neto (ex-1º sargento da CART 1613, Guileje, 1967/68)
© José Neto (2006)

Portanto as férias na Metrópole para quem andava por esse mundo de Cristo, acrescidas de 5 dias da alínea a) (sei lá de que artigo) eram sagradas e tive-as nas minhas três comissões em África. Há que acrescentar que as Unidades (tipo batalhão ou outro escalão independente) tinham de organizar no mês de Janeiro o Mapa das Licenças que por vezes era objecto de acertos para garantir o efectivo operacional.

Daí: RDM + Folha limpa de castigos = licença disciplinar. Chega ou querem que vos conte a história do capitão que ganhou uma Cruz de Guerra por ter trocado o seu previsto mês de licença com o comandante? Nem pensar!

Um abração do
Zé Neto
___________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 1 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXXIX: O Guimarães no gozo da sua licença disciplinar (Lisboa, Bissau, Bambadinca)

(2) Além de muitas imagens (de que se divulgam hoje duas...), a continuação das Memórias de Guileje (1967/68), do Zé Neto... Vd post de 23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(4): os azares dos sargentos

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