segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Guiné 63/74 - P176: "Forsa di pis sta na iagu" (ditado crioulo) (Paulo Salgado)

Trocando a espada pelo arado, ou melhor, a G3 pela pá e pela enxada...
Pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) nos trabalhos do reordenamento de Nhabijões, um conjunto de aldeias sob duplo controlo, junto ao Geba Estreito, pertencente ao posto administrativo de Bambadinca, sede do Sector L1, Zona Leste.
© Luís Moreira (2005). Foto de finais de 1970 gentilmente cedida pelo Luís Moreira, ex-alf. mil. sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).
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O texto de opinião que se publica a seguir (Importância e papel da cooperação) é da autoria do Paulo Salgado, o mais recente membro da nossa tertúlia.

Recorde-se que, para além de antigo Alf. Mil. da CCAV 2721 (nos idos tempos de 1970/72, lá para os lados do Olossato, a sudoeste de Farim, e depois em Nhacra, a nordeste de Bissau), o Paulo é também, hoje em dia, um cooperante activo, solidário e empenhado, na Guiné-Bissau no domínio da administração de serviços de saúde.

O Paulo Salgado é, seguramente, uma voz autorizada para nos falar desta tragédia imensa em que vive a África de hoje, com muitos países à beira do desastre humanitário... Talvez ele nos possa ajudar a pensar melhor estes problemas. E sobretudo talvez ele nos possa ajudar a aprender a ajudar os nossos amigos da Guiné. Se não os pudermos ajudar hoje, então nada valeu a pena: a nossa luta e a luta deles, a lusofonia, a nossa história em comum, a CPLP, os protestos de amizade e cooperação dos nossos representantes políticos...

Porque a esperança deles é também a nossa esperança: não há mais mundo, não há futuro para a humanidade, para os do Norte e os do Sul, os do Oeste e os do Leste, se a grande maioria dos africanos (incluindo os guinéus da nossa antiga Guiné) continuar a viver com menos de 1 dólar por dia...

E quando falamos de guinéus (com afectividade, sem paternalismo de ex-colonialistas...), falamos também dos antigos militares da Guiné que combateram sob a nossa bandeira e que foram nossos camaradas, em Contuboel, em Barro, em Bissorã, em Bambadinca, em Piche, no Pelundo, em Catió, por todo o lado... L.G.


1. Camaradas (*)

Temos muitas histórias para contar.

Não devemos esquecer - nunca (alguns estão bem avisados, pelo que se lê) - que desgraçadamente na Guiné, em Moçambique, no Burundi, na Etiópia, na ÁFRICA, se morre. E esta fome pode alastrar-se...

Salgado

(*) Termo muito rico, para designar companheirismo, solidariedade, aproveitado pela tropa...

2. Importância e Papel da Cooperação

“Forsa di pis sta na iagu” – ditado crioulo. A força do peixe está na água; ou seja: as nossas capacidades e forças residem no trabalho e na perseverança

É razoável reconhecer a importância crescente da cooperação internacional – que mais não fosse pela forte razão de que as bolsas de subdesenvolvimento também entram na aldeia global que é a globalização; e, portanto, os países ricos sentem-se obrigados a enfrentar e analisar este fenómeno, e procurar soluções para os problemas que o subdesenvolvimento gera.

Destaco, em particular, os problemas que se vivem na África:

(i) o empobrecimento, a miséria, o abandono das terras, a fuga de uns países para outros;

(ii) a desaceleração do investimento – a ajuda aos países africanos está actualmente nos 8 cêntimos por cada 100 dólares!;

(iii) a mutilação da cidadania, expressão que explica a redução drástica dos direitos mais elementares dos cidadãos de muitas zonas do Mundo, em especial da África.

Estamos confrontados com a explosão das desigualdades e com o aumento da exclusão social: mais de 2 biliões de pessoas têm um rendimento inferior a 2 dólares por dia! Bastará compulsar o Relatório do Milénio das Nações Unidas para pasmarmos face à realidade traduzida pelos indicadores de desenvolvimento…

Qualquer recusa na ajuda mais básica a África é colocar em perigo, cada vez maior, os países pobres e – imagine-se! – a própria segurança dos países ricos.

Caros camaradas, vivemos uma guerra; não queremos que a fome e a miséria matem, por incúria e desprezo dos poderosos, milhões de crianças – aquelas crianças que nos habituámos a ver sorrir…

Paulo Salgado

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